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Galípolo: normalizar política monetária demanda reformas contínuasFonte: Agência Senado

  • Foto do escritor: norton silva
    norton silva
  • 22 de abr.
  • 6 min de leitura

Ao prestar contas em sua primeira audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) após ser aprovado pelo Senado, em outubro de 2024, para assumir a presidência do Banco Central no quadriênio 2025-2028, Gabriel Galípolo afirmou que a normalização da política monetária vai demandar uma série de reformas contínuas. O presidente da autarquia federal foi questionado nesta terça-feira (22) pelos senadores sobre o quinto reajuste consecutivo da taxa básica de juros (Selic), que chegou a 14,25%; aumento da inflação e da dívida pública e os impactos do cenário internacional, principalmente diante da atual guerra tarifária impulsionada pelos Estados Unidos.

Galípolo destacou o “crescimento excepcional” do Brasil, mas chamou a atenção para a inflação. Para o gestor, o cenário internacional, ainda imprevisível, tem sido o vetor principal na determinação da dinâmica dos preços de mercado. O presidente do Banco Central defendeu que é papel da autarquia atuar em uma ação de “contrapé” (como o aumento da taxa básica de juros), como o “chato da festa”, para que não se perca o controle da estabilidade monetária.

— Quando a economia está aquecida, gerando pressões inflacionárias, você deveria freá-la, para que não se perdesse o controle da estabilidade monetária — disse.

O gestor também salientou que “todos no Banco Central estão bastante incomodados por estarmos fora da meta”.

— Porém, estamos falando de um patamar de inflação muito inferior ao que estávamos discutindo antes e mais próximo com as economias avançadas e com as emergentes.

Presidente da CAE, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) enfatizou que o país enfrenta incertezas no cenário internacional, que ainda não permitem ver com clareza qual será a trajetória das commodities. Ele destacou o “remédio amargo” do aumento da taxa de juros para contenção da inflação.

— A supersafra vai ajudar, mas os preços dos alimentos não devem regredir com velocidade; assim, temos uma situação peculiar. Vamos muito bem segundo diversos indicadores macroeconômicos,  a começar pelo crescimento do produto interno bruto [PIB], aumento da renda média das famílias e baixa taxa de desemprego. No entanto, paira o fantasma inflacionário — pontuou Renan.

Selic

Segundo o presidente do Banco Central, a última elevação da taxa básica de juros (Selic), de 13,25% para 14,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) também foi impactada pela imposição de tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele considera que está em andamento a avaliação de uma possível desaceleração internacional.

— Estamos falando de um cenário de aversão a risco onde aquilo que é conhecido como o ativo de última instância, o ativo mais seguro da economia, está sendo um pouco questionado. (...) É perceptível, entre os agentes econômicos, uma dúvida sobre para onde se deve procurar proteção no momento de aversão a risco. Esse é o cenário em que a gente está entrando, e por isso que a gente está vendo alguns cenários de arbitragem entre moedas de alguns países, ou o próprio preço do ouro, como o ouro tem se valorizado e batido recordes, a gente tem assistido. Então, esse é um cenário de preocupação — disse a autoridade monetária.

Galípolo destacou que as commodities são impactadas pelos preços internacionais e que de 60 a 70% da produção agrícola tem “alguma correlação elevada com a taxa de câmbio”. Disse ainda que depreciação cambial de 10% aumenta a inflação de alimentos em 1,4 ponto percentual.

Mas para o presidente do Banco Central a diversificação da pauta comercial brasileira, somada a um mercado doméstico relevante, coloca o país como um local de proteção.

— Na comparação com seus pares, o Brasil pode se destacar justamente por essa diversidade.

O presidente do Banco Central explicou ainda que estão "tateando" agora um ajuste, para verificar se o ciclo de alta dos juros que tem sido adotado está em um patamar restritivo o suficiente.

Juros altos

Autora da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 79/2019, que limita as taxas de juros cobradas por instituições financeiras em operações de crédito, a senadora Zenaide Maia (PSD-RN) defendeu a redução dos juros.

— Nós temos uma PEC que limita os juros nos cartões de crédito, cheques especiais, a no máximo três vezes a taxa Selic. Nós não engessamos a política monetária. Agora a gente ver toda a sociedade brasileira ser extorquida por juros de até 400% por ao ano, isso dói. É assustador — afirmou Zenaide.

Galípolo defendeu que a normalização da política monetária vai demandar uma série de reformas contínuas, entre elas a ampliação do acesso da população ao um credito de menor custo. Ele lembrou que o crédito rotativo não deveria ser utilizado de maneira frequente, mas apenas de forma emergencial, daí a importância de se pensar em instrumentos em que se possa oferecer mais garantias.

— Ou seja, que você possa migrar do crédito que tem alto custo para o crédito de baixo custo, de uma maneira estrutural, ou seja, porque se está oferecendo garantias, está aumentando o que a gente chama de colateralização, na minha posição, na minha visão, do ponto de vista estrutural, ele é bem-vindo por isto, porque eu consigo sair daquele crédito que está sendo utilizado de maneira equivocada — disse.

O senador Oriovisto Guimarães (PSDB-PR) questionou a relação da dívida/PIB com a taxa de juros.

— Se o Brasil crescer 2% ao ano e nós continuarmos com essa taxa de juro, com relação à dívida bruta, em 2027, a dívida já vai ser 108% do PIB, e com relação à dívida líquida vai ser 86%. Como é que fica isso? Nós vamos continuar ignorando? O Banco Central, também não é a sua obrigação, o senhor [Galípolo] não tem poder para isso, mas o senhor sofre as consequências disso — afirmou Oriovisto.

Já o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), indagou se o Brasil está utilizando inteligentemente a busca de competitividade e disse que “estamos deixando os juros altos no Brasil virar quase como um vício”.

— O Banco Central costuma olhar vários anos para frente e também olhando vários anos para trás. O tema de a gente estar convivendo com patamares de juros que são comparativamente elevados, quando comparado com os pares, não é um tema novo, é um debate, como eu disse, que há algumas décadas tem ocupado o debate acadêmico e a literatura econômica brasileira. E aí, essa relação sobre os caminhos, que são a fluidez, vamos dizer assim, do mecanismo de transmissão da política monetária é relevante para a gente poder analisar, porque o que eu acho que acaba acontecendo é que, a cada momento que a gente tem, ou a gente aprendeu a conviver, como o senhor comentou, senador, assim, aprendemos a conviver com uma inflação mais alta, aprendemos a conviver com juros — expôs Galípolo. 

Política monetária

O senador Cid Gomes (PSB-CE) disse ser importante fazer o debate da política monetária. Ele destacou que, com a inflação alta, os pobres são os mais prejudicados, não os investidores e o mercado. E afirmou que o país vai chegar a 2026 com mais de R$ 10 trilhões de dívida pública. Segundo ele, “o sistema financeiro, os fundos de pensão, os investidores estrangeiros” é que ganham com isso.

— O Brasil precisa sair desse círculo vicioso. Eu não sei até quando o povo brasileiro, talvez pela ausência de debate, vai suportar um governo cumprindo um papel de Robin Hood ao contrário, porque, no final das contas, o Banco Central é governo e é o Banco Central quem tira dos pobres, dos trabalhadores, dos que empreendem para dar aos especuladores. Isso, certamente, tem que ter um fim.

Líder da Oposição, Rogerio Marinho (PL-RN) enfatizou que o governo busca receitas para tentar tapar os buracos na política fiscal. Ele lembrou que a projeção do Relatório Focus era de uma taxa Selic de 8% ao final de 2024, e de 7,75% ao final de 2025, enquanto o atual percentual é de 14,25%. 

— Se pegar o dado colocado aqui da nossa dívida, de R$ 9 trilhões, a dívida pública nominal, absoluta, e levarmos em consideração uma Selic de 14%, 1,2 trilhão — mas a composição dessa dívida vai variar, porque alguma parte dessa dívida foi contraída com uma taxa de juro menor —, então bota aí uma taxa média de 10%, R$ 900 bilhões de reais por ano. Se ela fosse a metade, como o Relatório Focus preconizava, nós estamos falando aí de quase R$ 500 bilhões pagos a mais de juros em função da temeridade, em função da má condução da política fiscal por este governo populista que não tem projeto de país — disse Marinho.

Já o senador Rogério Carvalho (PT-SE) defendeu o crescimento econômico e ponderou que, em ataque especulativo no final de 2024, os agentes de mercado apostaram contra a moeda [real] e que, por isso, o Banco Central agiu para reverter essa situação.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado



 
 
 

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